Idealizador de mosaicos do Timão larga carreira para realizar sonho
Rogério Bandeira era professor de sociologia, mas teve de
parar de lecionar depois que a diretoria de marketing do Corinthians o
chamou
Por Leandro Canônico
São Paulo
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A turma que ajuda a fazer os mosaicos do Timão
(Foto: Leandro Canônico / Globoesporte.com)
Seria muito simples dizer apenas que Rogério Bassetto, 37 anos, largou a
vida de professor de sociologia para se dedicar à confecção de
bandeiras e mosaicos para o Corinthians, muito embora seja algo, no
mínimo, curioso. Mas a história de Rogério Bandeira, como é conhecido em
Santo André, é mais inusitada. A mudança na carreira não foi uma
oportunidade, mas a realização de um sonho de criança.
– Desde que vi a torcida do Corinthians em um jogo aqui no Santo André,
carregando suas bandeiras, eu tenho um amor platônico por tudo isso.
Tanto que quando as minhas professoras faziam aquela tradicional
pergunta “o que você quer ser quando crescer?”, eu respondia: quero
fazer bandeiras para a torcida do Corinthians – diz o artista Rogério
Bandeira.
E tudo começou assim mesmo. Desde 1992, o corintiano começou a desenhar
e confeccionar as bandeiras gigantes para as torcidas organizadas.
Alguns anos atrás, ele resolveu ousar e começar a fazer mosaicos, como o
do coração corintiano na semifinal da Libertadores, contra o Santos.
Mas chamou a atenção da diretoria de marketing do Timão mesmo em 2010,
ano do centenário. Foi, então, “contratado”.
– Eu vivo atualmente de fazer bandeiras para as torcidas organizadas e
também para empresas, faculdades, etc. Meu trabalho para a diretoria de
marketing do Corinthians com o mosaico é voluntário. Não cobro a mão de
obra, eles pagam apenas o custo do material (não divulgado). Resolvi não
cobrar para manter a essência do torcedor, do amor ao clube – explicou o
artista.
Na
parede da casa de Rogério Bandeira, fotos do Corinthians dividem espaço
com gente como Lula, Gandhi, Che Guevera, os Beatles e até... Osama Bin
Laden! (Foto: Leandro Canônico / Globoesporte.com)
Para a grande final da Libertadores, nesta quarta-feira, às 21h50,
contra o Boca Juniors, no Pacaembu, Rogério projetou um “Vai,
Corinthians” enorme. Na arquibancada atrás do gol, uma bandeira gigante
terá o “Vai”. E nas cadeiras laranjas, um enorme mosaico com o
“Corinthians” será organizado. Nesse espaço são 7.200 peças de 50 x 70
centímetros.
A logística para que minutos antes da decisão esteja tudo certo é
complexa. Nesta quarta-feira, às 14h, dois ônibus, com todo material e
100 pessoas, saem de Santo André com destino ao Pacaembu. Lá, Rogério
Bandeira coordena a organização, sempre checando tudo no desenho que fez
a mão, em folhas quadriculadas. Há imprevistos, sim, mas ele está
preparado para isso também.
– Por conta das entradas para a arquibancada, às vezes temos alguma
diferença. Mas temos como mudar isso na hora. Nós montamos, um amigo
tira a foto, me mostra e, se está errado, fazemos tudo de novo. Nesse
jogo, nos minutos finais, o estádio será também fechado com tiras pretas
e brancas. Pretendemos fazer isso cinco minutos antes do apito final –
comenta Bandeira.
Além da bandeira gigante, do mosaico e das tiras pretas e brancas, o
Pacaembu também será enfeitado com milhares de balões, faixas e
bandeirinhas.
No jogo contra o Santos, mosaico simulava batimento cardíaco (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Traidor, mercenário...
Rogério Bandeira é fanático pelo Corinthians. Vive vestido com camisas
do clube e mora nos fundos do galpão onde confecciona as bandeiras para
as torcidas organizadas. Ele, sim, vive de Corinthians. Mas em 2006,
contratado por uma grande empresa, teve de fazer bandeiras para São
Paulo e Palmeiras.
– No primeiro momento me senti um pouco mercenário, mas depois vi que o
dinheiro compensou. Senti também que estava traindo o Corinthians, mas
quando vi que meus tios palmeirenses ficaram felizes, assim como os meus
primos são-paulinos, isso tudo passou – diz o artista.
Para fazer mosaicos de rivais, Rogério Bandeira ainda não foi contratado. Até aceitaria fazer, mas com uma condição:
– Eu teria de ver de casa, na televisão. Não ficaria para o jogo – brinca.